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Depois de muito navegar em mares longínquos, passando privações e falta de rum, a Chap’s Entrevista esta de volta. Desta feita, quem vai à prancha é o pirata Ivan Halfon, cantor e compositor do bando cruel e sanguinário que podemos chamar Confraria da Costa. 

À frente desta nau clorofórmica e desgovernada desde que o mundo era quadrado e com dragões nas pontas, ele aprendeu ao longo dos anos um jeito único de provocar o caos em qualquer tripulação: 

tunga tunga tunga tunga tunga tunga tunga.............. 

Também teremos a honra de contar com alguns desenhos do genial Laerte e seu Piratas do Tiête, que concordou com a reprodução das suas tiras para esta entrevista cadavérica, deveras pra caralho. 

Chap’s - Velho, queria cavar uma coisa na sua memória. Há uns 10 anos atrás, fui passar um ano novo na Ilha do Mel, e lembro que a única alternativa ao forró/pagode/reggae naquela ocasião era justamente uma banda em que você tocava, junto ao Alexandre, a Marina e mais uma galera, inclusive um guitarrista doidão de pedra, aquele cara não esqueço, rs.. Acho até que foi a primeira vez que escutei Mutantes. Só não me lembro se vocês já tinham músicas próprias. Como eram aqueles tempos? Foi a sua primeira banda? 

Essa banda se chamava Circo Louco, foi minha quarta banda na real, mas a primeira a realmente cair na estrada, ganhar uns cachezinhos, essas coisas. Nós tínhamos uma ou outra música própria, nosso lance era aquele repertório setentista clássico, tocávamos quase tudo dos Mutantes e Secos & Molhados. Nós fomos pra Ilha com todo o equipamento na barca, sem lugar certo pra tocar, nos arranjando. De lá fomos tocar em Florianópolis, Itapema e Camboriú; viajávamos sem carro, sem grana e sem nada agendado. Dava pra fazer um daqueles filmes de banda viajando, até presos nós fomos. Tem muita história pra contar dessa época, nem vou me alongar! 

Chap’s - De certa maneira, aquela banda foi também um embrião do que viria a ser o movimento Psicodália. Você chegou a tomar parte na organização ou idealização do festival alguma vez? 

Sim, o primeiro festival foi em Angra dos Reis, mas ainda não se chamava Psicodália. Eu organizei junto, já foi um trampo animal, isso que eram só 2 ônibus e uma van. Não tinha refeitório, banheiro, nem palco, mas já foi um puta empenho e eu larguei mão de organizar. As bandas tocaram embaixo de uma daquelas torres de alta tensão. Ninguém nem imaginava que ia tomar as proporções que tem hoje. 

Chap’s - Logo depois disso veio o Gato Preto. Lembro que cheguei a mandar um e-mail para a banda protestando pela mudança de nome para Confraria da Costa, e alguém respondeu: “estamos cansados de ver nossos cartazes com gatinhos”. O engraçado é que o som ficou menos rock, porém, o show ficou bem mais agitado. Quando e como foi que deu esse estalo de mudar o som pro tal “tunga tunga”? 

Pois é, fizemos o tunga tunga e gostamos da idéia, já tínhamos umas músicas de pirata, mas no meio de um repertório com covers. Aí resolvemos tocar só as músicas próprias e os bares nos chamavam querendo ainda o repertório antigo. Achamos melhor mudar o nome pra acabar com essa confusão e pra dar uma identidade nova pra banda. No começo, uma galera gralhou (como você, rsrs), mas não me arrependo nem um pouco da mudança. 

26/10/11 - Entrevista: Confraria da Costa no Portal Chap´s Chap’s - Você costuma participar de um monte de bandas, tocando bateria, baixo, cantando, etc. Você é auto ditada em todos estes instrumentos ou teve estudo? E tem o xodózinho, aquele instrumento que você se diverte mais? 

Eu estudei alguns deles, outros não. Comecei estudando violão, daí passei pra guitarra e depois pro baixo, que é meu instrumento favorito de longe. Comprei uma flauta porque queria um flautista na banda e nunca encontrei, mas só arranho. Peguei um clarinete porque um cara me vendeu por R$200,00. Se eu não conseguisse tocar, poderia pelo menos revender mais caro rsrs. Eu cheguei a fazer umas aulas de baixo acústico, mas não engrenei também. Bateria foi de tanto tocar bêbado nas festas. E no ano passado inteiro eu estudei canto pra ver se desafinava menos. 

Chap’s - Depois de tanto tempo tocando, quais são os compositores que ainda são referência pra você? Existe alguma banda que você já foi fanático quando era piá, mas hoje olha meio de lado? 

Minhas referências mudaram bastante. O rock clássico eu ainda curto, apesar de não colocar muito pra tocar, o que eu mais olho de lado hoje em dia é o rock progressivo e psicodélico, eu curtia muito King Crimson, Jefferson Airplane, Mutantes, hoje não curto mais. As referências que ficaram dessa época foram AC/DC, Toy Dolls, talvez um pouco do Jethro Tull. Hoje o que eu gosto mesmo é Tom Waits, Jonnhy Cash, Jerry Reed, Jorge Mautner, Andrew Bird. 

Chap’s - Sabemos que o Abdul, batera da Confraria, é proprietário da Cantina Villa Bambu, ponto de encontro da moçada prumas beras ali no Largo da Ordem. E o resto do bando, como é que faz pra garantir o Rum no fim do mês? Vivem só de música ou são obrigados a lançar mão também da pirataria, saqueando supermercados, roubando velhinhas indefesas.. ? 

Então, o ideal seria isso, só tocar e roubar velhinhas indefesas, mas o pessoal tem suas atividades paralelas pra garantir o leite das crianças no fim do mês. O Marcello trampa com arquitetura, o Panta tá trabalhando no Sesc, o Jan tem umas atividades paralelas que ninguém sabe direito e eu acabei de sair depois de dez anos em um trampo fixo pra me dedicar só a música mesmo. Quando não tem onde tocar, eu jogo poker. 

Chap’s - Por último, queria saber sua opinião sobre uma conversa que na verdade já morreu, haja visto o enorme engajamento político do brasileiro. Quando houve aquela mudança na direção da Rádio Educativa, várias bandas paranaenses entraram na programação, inclusive músicas da Confraria da Costa. Infelizmente, a falta de cuidado na inclusão destes artistas, com os novos agentes praticamente excluindo a programação antiga pra tocar em sua maioria rock independente, acabou sendo ainda pior pros músicos paranaenses: o Diretor Geral foi afastado e, consequentemente, as bandas não tocaram mais. Nem mesmo as que claramente se encaixam no perfil tradicional da rádio, músicos de qualidade incontestável, continuaram na programação. Agora.. os amigos do Paulo Vitola tocam todo dia: Lápis, Papel, Borracha, Apagador.. Você concorda que uma rádio estatal paranaense privilegie a bossa nova em detrimento das bandas paranaenses, não nos deixando nem o horário pornô da madrugada? 

Hahaha não, eu prefiro quando eles tocam as nossas músicas! Mas também eu me lembro que ligaram pra dizer que nós estávamos tocando na rádio, e pelo telefone eu ouvi que a música era “Caravela Estelar”. E eu pensei: “caralho, essa é a última música do cd que eu tocaria na rádio”, tem um ritmo todo quebrado, o meio é todo instrumental, etc. Mas depois foram tocando outras, inclusive versões ao vivo com qualidade de gravação bem pior que do cd, parecia que quem tava tocando isso nem tava ouvindo a música, nem conhecia as bandas, dava a impressão de escolher as músicas aleatoriamente. Daí não tem como durar mesmo, a intenção foi boa, mas a execução nem tanto. Mas eu não sou de ficar chorando por essas coisas, aliás, piratas não choram, quer tocar nossas músicas pode tocar, se não quiser, eu mato. 

É isso aí gurizada. Obrigado Ivan e obrigado Larte!!